Em agosto deste ano de 2010, fiz a performance no centro de São Paulo, com a parceria de produção do Núcleo Corpo Rastreado, no contexto da residência artística ‘Entorno’.
A árvore fica numa das esquinas da Praça da República, num espaço dedicado exclusivamente à passagem. Não há bancos, ou qualquer outra coisa que convide alguém a parar por ali. É um calçamento entre o prédio da secretaria de educação do estado e uma entrada da estação de metrô, em frente há uma bifurcação de ruas.
Eu estava camuflado nesta paisagem urbana. Um homem em cima de uma árvore tramada de fios brancos. Na proporção da cidade, a ação era mais uma informação entre tantas, mais uma forma de ocupação do espaço público, tão amplamente habitado por sem – casas; mais uma intervenção artística no centro da metrópole.
Nas sete horas de permanência, acompanhei camadas de fluxos de pessoas, ônibus e carros.
A maioria das pessoas passava direto. Muitas ignoravam a ação. Outras olhavam de canto de olho. Algumas paravam, fotografavam, comentavam entre si. Via pessoas que reagiam corporalmente, com surpresa, confusão, curiosidade. Cada pessoa que notava a performance se via diante de uma decisão: olhar ou não, disfarçar, ignorar, interagir. Muitas pessoas não viam. A ação era sutil no contexto. Um cara passou resmungando, parou na esquina e ficou me olhando de cara feia. Foi a única reação de incômodo declarado que percebi. A recorrência mais comum era sorrisos, para mim, ou de mim. Essa reação foi o que mais me interessou nesta experiência, pois foi a primeira vez que aconteceu assim. Eu estava colhendo sorrisos, e me alimentando deles.
Percebi o trabalho como um suspiro naquele espaço de pés apressados. Uma poesia estética, aberta a interpretações. “mais um louco na cidade”, “arte contemporânea”, “protesto”, “ uma moradia”... coisas que ouvi. Seja como for, havia sutileza na reação da cidade que não me hostilizava, experiência que me deu um contraponto com o que aconteceu em Curitiba-PR. (relato no texto Hominidae em Curitiba).
Pela primeira vez, senti vontade de romper o silêncio na proposição do trabalho. Algumas pessoas pararam e perguntaram o que eu fazia ali. Eu fiquei olhando para elas, garantindo um canal de comunicação, mas não respondi em palavras. Mentalmente eu respondia perguntando: o que vocês fazem ai embaixo? Teria sido instigante saber, de cima da árvore, o que as pessoas faziam ali embaixo, atravessando uma esquina no centro da sexta cidade mais populosa do mundo.
Esta é uma idéia possível de ser incorporada em outras ocupações, que certamente cria novas dobras na performance.
Durante a ação, enquanto ouvia música em um Ipod, como faço em alguns momentos, fui percebendo conexões estética com as pessoas que passavam com seus fones. Era uma cena muito recorrente, o que me estimulou a ficar horas ouvindo música, vivenciando a interferência deste elemento sonoro na composição de ambientes de percepção.
Ao final da permanência, não tirei os fios da árvore. Soube que seguiam lá três semanas depois, e talvez ainda estejam. Em Curitiba e Uberlândia, os fios da parte baixa do tronco não duraram até o dia seguinte, foram cortados e deixados no chão.
Acredito que os relatos desta performance forneça alguns Indícios das particularidades dos processos culturais, sociais e políticos e nas formas de ocupação e volume de cada cidade. Evidenciando algumas diferenças regionais neste país continental.
Realmente. Em cada árvore, em cada cidade, ou em cada vez, uma experiência se dará organizada a partir da coexistência de uma gama de variáveis.
foto: Roberto G Delduque
foto: Marisol Cordeiro
foto: Roberto G Delduque
quarta-feira, 22 de setembro de 2010
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