Como habitar uma árvore por horas?
Entre sentado, de pé e deitado, todas as posições e nenhuma ao mesmo tempo.
As responsabilidades de apoio vão sendo distribuídas por diferentes partes. Busco adaptar-me as curvas e bifurcações, numa tentativa de aconchego e sujeição ao tronco. Amoldo meu corpo nos nichos de ocupação. Investigo uma distribuição equilibrada de tônus a cada movimento ou posição. Mapeio tensões localizadas e procuro equilibrá-las no limite de não cair; um acordo com a gravidade, meu corpo e a árvore buscando uma certa economia do esforço.
A situação de permanência e deslocamento neste habitat, exige novos padrões de corporalidade, mecanismos de inteligência e adaptação do movimento, gerando negociações estruturais.
Dedico uma atenção especial a respiração, deixando-a um pouco mais profunda, porém de forma orgânica, atento a seu fluxo livre, vivenciando o potencial de sensibilização a partir das trocas com o ar.
No encontro de peles - a minha e a da árvore - há uma sensibilização refinada neste órgão de superfície gerando informações e estímulos que modificam provisoriamente o corpo dilatado na ação. Também os cheiros e sons constituem fator de mobilidade das percepções.
Obviamente a ação na mata e na cidade recebe estímulos muito diferentes e consequentemente propicia vivencias corporais marcadas por caracteristicas de cada ambiente.
Em ambos, senti em alguns breves instantes, meu corpo desaparecer . Viro árvore. Ou viramos uma outra coisa. Experiências de intercorporeidade. Sensorialidades ativadas no trabalho de estar presente, manter-me sobre a árvore, sobre mim mesmo, posicionado no mundo.
É possível sentir o corpo árvore, a pulsão vegetal, que contem em si muitas informações sobre os movimentos internos, a estabilidade e o fluxo de energia.
Um campo aberto a múltiplas experiências de corporalidades.
Necessidades do corpo
A mobilidade, durante as oito horas de performance, é dada segundo necessidades.
Em geral as árvores que habito tem em média de três a cinco nichos de ocupação. Eles possibilitam a estabilidade de algumas posições.
O movimento e permanência são determinados tanto por estimulo do meio, tal como a necessidade de abrigar-me do sol nos períodos de mais intensidade, como do corpo, nas necessidades de rearranjos dos músculos e ossos, do pensamento e do estado emocional. Arrisco a dizer que também podem ser determinados por necessidades da árvore.
Uma outra questão é a alimentação. Eu poderia ficar em jejum,ou comer qualquer coisa, mas decido por comer frutas, em geral bananas e maçãs. Além de me sustentarem energeticamente, elas são elementos estéticos da performance.
Em geral tomo pouca água e não urino.
Na cidade, urinar durante a performance não seria possível sem descer, e nunca aconteceu. Na mata este é um fato facilmente administrado, mas nos dois ambientes, meu corpo parece entrar num processo de economia líquida e tal necessidade não aparece. Fico as oito horas sem urinar, o que em geral faço meia hora depois que desço.
quarta-feira, 22 de setembro de 2010
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